Há que pensar, primeiro, nos cidadãos e na utilidade que uma dada investigação terá junto das comunidades e só depois avançar para a pesquisa e síntese da ciência.
Esta foi uma das ideias defendidas durante o seminário “Translação da ciência com envolvimento do cidadão”, organizado, no dia 23 de fevereiro, pelo Capítulo Phi Xi da Sigma Theta Tau Internacional (STTI) – Honor Society of Nursing, sediado na da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), e pela Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, também da ESEnfC.
Lurdes Lomba, Thilo Kroll, João Apóstolo e Aida Mendes
Este seminário, que juntou cerca de 150 profissionais da área clinica, académica e da investigação e liderança em Enfermagem (oriundos de instituições de Coimbra mas também do Porto, Aveiro, Viseu, Leiria e do Brasil), foi também difundido por videoconferência, para colegas e outros membros da STTI na Arábia Saudita, no País de Gales, em Inglaterra, Holanda, Suécia e Arménia.
Numa das intervenções, o professor da ESEnfC, João Alves Apóstolo, referiu que, «nas revisões sistemáticas, os autores são sempre autores investigadores», não entrando, habitualmente, neste processo «os autores que são os end users (utilizadores finais)» e que atestam se dada «evidência é aplicável», se pode ser «utilizada na prática» e «qual o significado e aceitação que tem para as pessoas».
«Estamos a pensar nos cidadãos como coprodutores da síntese de evidência», defendeu o também diretor-adjunto do Portugal Centre for Evidence Based Practice (centro afiliado do Joanna Briggs Institute, da Austrália), referindo-se ao conceito de citizen science, entendido como o «comprometimento do público em geral nas atividades de investigação científica», contribuindo «ativamente com o seu capital intelectual, conhecimento, ferramentas e recursos».
Neste seminário participou, também, Thilo Kroll, professor de Gestão de Sistemas de Saúde no University College de Dublin, que falou sobre "Evidências que importam: o envolvimento significativo dos doentes e do público na investigação em saúde”. Defendeu a necessidade e importância de se dar voz aos doentes, de os integrar ativamente na investigação clínica e nos sistemas de saúde.
O “Cidadão no centro dos cuidados e modelos de aceitação da tecnologia: testes de usabilidade em saúde”, “Um exemplo de investigação em saúde: TecPrevInf” e “Dotações seguras em Enfermagem: contributos para a segurança do doente” foram as restantes comunicações do dia, proferidas, respetivamente, pelos professores Pedro Parreira (ESEnfC), Anabela Salgueiro Oliveira (ESEnfC) e Maria João Freitas (Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias). O enfermeiro Hugo Raimundo (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) comentou e fez a síntese dos trabalhos.
Para a presidente do Capítulo Phi Xi, Maria de Lurdes Lomba, «há, de fato, uma consciência crescente da necessidade de fortalecer o envolvimento dos utentes na investigação em saúde».
«Os utentes devem ter uma palavra a dizer sobre “o que” e “como” a investigação é desenvolvida - e não apenas como uma posição ética, uma vez que potenciam a geração de evidência, de adequação, e de significado. A necessidade de ouvir os doentes e o público em geral sobre os temas investigados e a forma como essa investigação é realizada resulta da convicção de que a investigação será mais relevante, inclusiva, equitativa e, em última instância, de melhor qualidade e com mais valor», conclui a docente e investigadora, mestre em Saúde Pública e doutorada em Ciências de Enfermagem.
[2018-02-28]