«Não tenham medo de utilizar as mãos nuas, o [contacto] pele a pele. As luvas são a maior parte das vezes tão falsa proteção como caricata é a sua utilização, observem! Mas, por favor, lavem as mãos!»
A recomendação é de Nídia Salgueiro, num dos muitos escritos que deixa. Neste caso, no artigo “A mestria das mãos: história de umas mãos que cuidam…”, publicado na revista Referência (II Série - nº 5 - Dez. 2007).
Com 90 anos de idade, morreu, ontem à noite, a antiga professora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) – então Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca –, considerada precursora, em Portugal, da metodologia de cuidados Humanitude e várias vezes medalhada pelo incontestável mérito profissional, tanto do ponto de vista assistencial, como ao nível do ensino, por que se apaixonou. Expirou no serviço de Urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), instituição onde, em outubro de 1955, começou a exercer a atividade de enfermeira.
Enaltecer a vida de "um dos nossos melhores"
«Ontem, partiu um dos nossos melhores», é assim que o Presidente da ESEnfC, Fernando Amaral se refere à morte de Nídia Salgueiro, ao referir que a instituição se junta «na dor» à respetiva família, mas que quer «também enaltecer a sua vida, pelo exemplo que foi para nós enquanto enfermeira, professora, gestora, investigadora e sobretudo pessoa».
«A Escola Superior de Enfermagem de Coimbra é-lhe devedora de muito da sua história de sucesso. Foi com a Professora Nídia que muitas das conquistas para a Enfermagem e para o seu ensino em Coimbra se concretizaram», sublinha Fernando Amaral. Que acrescenta: «Hoje, não é apenas a família que está de luto. É também a Escola de Enfermagem de Coimbra e toda a profissão».
Natural de Vila Seca, concelho de Condeixa-a-Nova – ali nasceu em 1934 (no dia 25 de abril) –, Nídia Rodrigues Mendes Salgueiro iniciou a formação em enfermagem com 16 anos de idade.
Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, com experiência de chefia em várias áreas de cuidados de enfermagem, bem como de gestão na Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca (além de ensinar, esteve nos órgãos de governo da instituição e assumiu responsabilidades na liderança da Escola), Nídia Salgueiro recebeu, em 2004, o Prémio Prestígio dos HUC e, em 2007, a Medalha de Serviços Distintos, grau “Prata”, do Ministério da Saúde. Foi, ainda, homenageada, em 2018, pela Fundação para a Saúde – Serviço Nacional de Saúde.
Medalha de Ouro de Conhecimento e Mérito
Em 2014, na véspera de completar 80 anos de idade, Nídia Salgueiro foi distinguida com a Medalha de Ouro de Conhecimento e Mérito, atribuída pela ESEnfC e que visa galardoar figuras nacionais e estrangeiras que se tenham destacado no desenvolvimento da enfermagem, da saúde e ou do ensino superior, ou no exercício de cargos de grande relevo público ou privado.
Já em 2007 a ESEnfC havia atribuído o seu nome a um dos laboratórios de simulação clínica, no Polo B da instituição.
Casada, em 1959, com Manuel Simões Salgueiro, Nídia Salgueiro manteve o estado civil de solteira até 1962, ano em que a legislação que impedia o exercício hospitalar a mulheres casadas foi revogada.
«A mulher destemida», «visionária», «solidária», «aberta ao mundo e à cultura», ou «a sábia contadora de histórias», são algumas qualidades que se lhe atribuem.
Tendo desempenhado um relevante papel para a internacionalização do ensino da Enfermagem, numa altura em que ainda não se falava nos programas de mobilidade Erasmus, Nídia Salgueiro firmou parcerias com escolas e hospitais de diversos países (da Europa, mas também no Brasil e no Canadá), promovendo estágios, visitas de estudo, congressos e atividades científicas conjuntas.
O corpo de Nídia Salgueiro estará em câmara ardente, a partir das 18h00 de hoje (terça-feira, dia 12 de novembro), na Casa Mortuária da Igreja de Nossa Senhora de Lurdes, em Coimbra.
Dali sairá, amanhã à tarde (15h30), rumo à Igreja Matriz de Vila Seca (Condeixa), onde, cerca de uma hora depois, se realizarão as cerimónias fúnebres, que terminarão no cemitério local.
[2024-11-12]