A enfermeira e assistente convidada da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Luísa Teixeira Santos, obteve a única bolsa de investigação atribuída, em 2020, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a um projeto de doutoramento em Ciências da Enfermagem.
Luísa Teixeira Santos preocupada com a saúde mental dos jovens que vivem em campos de refugiados
Intitulado “Mental health and Well-being training program for non-health professionals and volunteers working with asylum seekers (Apt4U2)”, o programa de doutoramento visa ajudar voluntários e profissionais de organizações não governamentais de áreas que não as da saúde a saberem lidar com as questões de saúde mental dos jovens que vivem em campos de refugiados.
O projeto de Luísa Teixeira Santos será desenvolvido na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), contando com a participação dos professores Ana Paula Monteiro (ESEnfC), Wilson Correia de Abreu (Escola Superior de Enfermagem do Porto) e Afaf Meleis (Universidade da Pensilvânia).
O objetivo deste projeto consiste, pois, em «treinar voluntários e profissionais em competências que lhes permitam reconhecer sinais e sintomas de perturbações de saúde mental nos jovens» que habitam naqueles locais, referenciando-os para equipas especializadas das organizações não governamentais de saúde, explica a bolseira da FCT.
Num estudo que realizou, em 2018, num campo de refugiados na ilha de Lesbos (Grécia), Luísa Teixeira Santos chegou «à conclusão de que o maior fator de proteção em saúde mental das crianças que lá viviam era a relação que estabeleciam com voluntários no terreno».
Porém, «curiosamente, a maioria destes voluntários, apesar da boa vontade, não tinha formação em saúde, muito menos em saúde mental».
A assistente convidada da ESEnfC constata que «não há uma formação sistematizada para ajudá-los a ajudar estas pessoas que estão a viver a experiência mais dolorosa e traumática das suas vidas» e que «muitos são os voluntários que demonstram não saber o que fazer em determinadas situações, perante comportamentos autolesivos, suicidas ou psicóticos destas crianças».
De acordo com Luísa Teixeira Santos, «os requerentes de asilo não só vivem o trauma nos países de origem, como acabam por vivenciá-lo, quer durante os percursos até chegar à Europa, quer, posteriormente, nos campos de refugiados onde são obrigados a permanecer até ter o estatuto de refugiado», que «demora anos» e que «eles vivem em condições desumanas todo esse tempo».
«Já que nós, profissionais de saúde, não conseguimos estar em número suficiente e de forma sistemática no terreno, temos de formar quem lá está», conclui a bolseira de doutoramento.
É «com gosto» que Luísa Santos diz receber este financiamento da FCT, que encara como o «reconhecimento de um projeto considerado inovador e com elevado impacto social». E que vê, igualmente, como «uma forma de colocar a Enfermagem na vanguarda na formação de agentes humanitários e, mesmo de que forma indireta, contribuir positivamente para os cuidados a populações requerentes de asilo e refugiados».
Contabilizaram-se, neste ano, 3.797 candidaturas ao Concurso de Bolsas de Investigação para Doutoramento da FCT, que prevê a atribuição de 1.350 bolsas, 92 das quais para a área das Ciências da Saúde.
As bolsas de investigação para doutoramento da FCT «são bolsas de mérito atribuídas em todas as áreas científicas e destinam-se ao desenvolvimento de planos de trabalho de investigação para a obtenção do grau académico de doutor, através de programas de doutoramento em universidades portuguesas ou estrangeiras. A seleção dos candidatos tem em conta o mérito do candidato, o mérito do plano de trabalhos e o mérito da instituição de acolhimento e orientadores», lê-se no portal online da FCT, que só divulgará os resultados finais do concurso no dia 30 de novembro, após o período de análise das audiências prévias interpostas (em caso de não concordância com a proposta de decisão por parte de alguns candidatos).
[2020-10-29]