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Relatório sobre enfermagem no mundo é «oportunidade para reavaliar opções políticas também em Portugal»

 

A diretora do Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Prática e Investigação em Enfermagem sediado na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Ananda Maria Fernandes, considera que «as conclusões» do primeiro relatório sobre a situação da enfermagem no mundo (State of the world's nursing 2020: investing in education, jobs and leadership report) «apelam aos governos que reconheçam que investir na enfermagem é essencial para obter a cobertura universal em saúde e atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável até 2030».

 

 

O documento, feito OMS em parceria com o Conselho Internacional de Enfermeiros e o projeto Nursing Now, e que foi publicado no Dia Mundial da Saúde, faculta «as mais recentes evidências e as opções políticas para a força de trabalho de enfermagem a nível global», apresentando «um argumento convincente para investimentos consideráveis e exequíveis» em cada uma daquelas três áreas: educação, emprego e liderança.

Embora continuem a ser o maior grupo ocupacional no setor de saúde, com quase 28 milhões em todo o mundo (aproximadamente 59% dos profissionais de saúde), persiste a falta de enfermeiros à escala global (embora com uma diminuição ligeira, de 6,6 milhões em 2016 para 5,9 milhões em 2018), sendo que quase 90% desta carência de profissionais está concentrada em países de baixa e média renda (países em desenvolvimento), revela o relatório, para o qual o Centro Colaborador da OMS na ESEnfC também contribuiu.

Para Ananda Fernandes, «também em Portugal a publicação deste relatório é uma oportunidade para serem reavaliadas, com base em evidências, as opções políticas de formação, emprego e exercício profissional dos enfermeiros».

«Mais do nunca, a atual situação de pandemia torna visível a importância de ter uma força de trabalho em enfermagem qualificada, a trabalhar no patamar mais elevado do seu nível de preparação e a participar na definição das políticas de saúde», advoga, ainda, a diretora do Centro Colaborador da OMS para a Prática e Investigação em Enfermagem sediado na Escola de Coimbra.

Ao citar o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, segundo o qual os enfermeiros são a espinha dorsal de qualquer sistema de saúde, Ananda Fernandes salienta que, «em muitos países, [eles] são os únicos agentes de saúde e fazem a diferença na vida das pessoas e nas comunidades».

«O retorno do investimento na enfermagem para as sociedades e para as economias pode ser medido pela melhoria da saúde e bem-estar das populações, pela criação de milhões de postos de trabalho qualificado e pela redução das desigualdades de género», explica a responsável do Centro Colaborador da OMS para a Prática e Investigação em Enfermagem acolhido na ESEnfC.

O recente relatório admite que, até 2030, a escassez de enfermeiros poderá atingir os 5,7 milhões de profissionais de enfermagem (sobretudo em África, no sudeste da Ásia e no leste do Mediterrâneo), o que só será contrariado se todos os países aumentarem, em média, 8% no número total de enfermeiros formados anualmente, melhorando políticas de emprego e medidas de retenção.

Entre as principais áreas de preocupação referidas no relatório, destaca-se, por exemplo, o envelhecimento da força de trabalho em saúde, especialmente nas regiões americana e europeia, recomendando a OMS que, nos países com maior participação de enfermeiros com 55 anos ou mais, se aumente o número de graduados.

A enfermagem continua a ser uma profissão exercida sobremaneira por mulheres (90% da força de trabalho de enfermagem é do sexo feminino), o que não se reflete, todavia, na liderança, adverte o relatório, que aponta para evidências de discriminação baseada no género, no ambiente de trabalho e a nível salarial.

 

[2020-05-15]


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