A professora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Conceição Alegre de Sá, defendeu, em entrevista ao Saúde +, que a temática da violência nas relações de intimidade entre adolescentes, que «não é abordada [pela sociedade] com a mesma amplitude que a violência doméstica», seja tratada nos estabelecimentos de ensino básico e secundário «não apenas nos currículos e não só de modo explícito (por exemplo, numa unidade curricular)», mas que perpasse, «de forma informal, na dinâmica da escola».
Conceição Alegre de Sá, que falava no programa Saúde em Dia do canal televisivo de Venda do Pinheiro (na sequência da realização pela ESEnfC do seminário internacional “Violência nas relações de intimidade nos adolescentes”), defendeu mesmo «mais funcionários para as escolas», ao considerar que «onde ocorre a maior incidência de atos de violência é no recreio», e propôs que se invista «na formação desses funcionários», que são quem faz «a supervisão» do relacionamento entre os jovens em contexto escolar e que, mediante uma adequada vigilância, poderão «encaminhar [situações de risco] para professores e pais».
Na entrevista, a docente da ESEnfC (ver o vídeo, a partir do minuto 5) afirma que «o início da relação interpessoal entre jovens tem vindo a ocorrer com um caráter de maior intimidade com uma frequência que não é tão percecionada quanto deveria ser, quer por professores, quer pelos pais», e que «a violência na fase do namoro é preditora da violência doméstica».
Por outro lado, Conceição Alegre de Sá enfatizou que «os conhecimentos são importantes para a prevenção da violência», mas que «não são suficientes», havendo igual necessidade de receber exemplos de respeito nas relações entre casais ou mesmo entre pares.
Não basta, salientou a investigadora, «desenvolver programas dando conhecimento, fazendo educação ou sensibilização, porque as crianças e os jovens aprendem por modelagem e há fases da vida em que são autênticas esponjas». É que, «se [tomando conhecimento de uma relação violenta] nada se fizer» para a contrariar, a criança e o jovem aprendem e aquele comportamento «passa a ser normativo».
A professora da ESEnfC sublinha que se deve «ajudar os jovens a resolver conflitos de uma forma positiva, o que melhora a relação», notando que, «da mesma maneira que eu aprendo a ser violento, também aprendo a ser delicado, assertivo e respeitador».
Se está interessado neste tema, não deixe de ver a entrevista na íntegra (a partir do minuto 5).
Evidenciar a importância de conhecer o fenómeno da violência nas relações de intimidade, partilhar os resultados da investigação dos diferentes países e identificar possibilidades de intervenção promotoras de relações de intimidade saudáveis em adolescentes, aos diferentes níveis de prevenção, constituíram os principais objetivos do seminário internacional “Violência nas relações de intimidade nos adolescentes”, organizado no dia 25 de novembro de 2019 e que reuniu profissionais de áreas como a saúde, a psicologia, as ciências da educação e a justiça.
[2020-01-15]