Uma análise recente que envolveu 102 estudantes de licenciatura da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) revela que este grupo discente apresenta uma favorável perceção do risco individual para a infeção por VIH (vírus da imunodeficiência humana que desencadeia a Sida - síndrome da imunodeficiência adquirida), com quase 60% dos respondentes a um questionário a demonstrarem “bastante”, “grande” ou “muito grande” conhecimento da infeção, sua transmissão e consequências. E isto contrariamente ao que a generalidade de estudos similares junto de jovens refere, que vai no sentido de uma compreensão do perigo de infeção por VIH «praticamente baixa a nula».
Quem o diz é Aliete Cunha-Oliveira, professora da ESEnfC que, no dia 28 de novembro, em plena “Semana Europeia do Teste VIH e Hepatites 2019”, apresentou resultados deste estudo preliminar, feito no ano letivo de 2018-2019, com uma amostra de alunos do 2º ano de licenciatura, maioritariamente feminina (80,4%) e com uma média de idades de 19 anos.
«Os nossos jovens têm um conhecimento diferenciado, nas várias dimensões, relativamente à infeção por VIH. E têm uma perceção de risco muito apurada, o que não acontece com os jovens em geral, nos estudos que temos analisado e que estão publicados em revistas científicas», observou a docente, admitindo que tal «possa dever-se ao facto de serem estudantes da área da saúde».
De acordo com aquela investigação, acerca dos conhecimentos sobre VIH e atitudes face ao preservativo em estudantes da licenciatura em Enfermagem, os estudantes inquiridos obtiveram uma «avaliação muito boa». «Os conhecimentos sobre a infeção VIH (nas dimensões médico-científica, mitos sobre a transmissão e conhecimentos sobre comportamentos de alto risco e prevenção) são elevados: oscilam entre 80% a 90% de respostas corretas», revelou Aliete Cunha-Oliveira, responsável por este trabalho juntamente com as professoras Ana Paula Camarneiro, Beatriz Xavier, Isabel Simões e Margarida Moreira da Silva.
Sobre a atitude dos estudantes de Enfermagem face ao preservativo, ela é favorável para os géneros masculino e feminino (um pouco mais no caso das mulheres), sendo que para eles é maior o embaraço no uso deste método contracetivo e para elas maior o constrangimento na aquisição.
No âmbito deste estudo associado do projeto (Re)pensar as Infeções Sexualmente Transmissíveis: doenças, comportamentos e contextos de transmissão, – projeto inscrito na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA-E), que é acolhida pela ESEnfC –, 83,2% da amostra participou em programas de educação para prevenção do VIH durante o ensino secundário, mas 86,1% diz não se recordar da última campanha de mensagens preventivas associadas à infeção VIH e a outras infeções sexualmente transmissíveis.
Por outro lado, 86,3% nunca fez teste de VIH, sendo que em relação aos últimos 6 meses, apenas 5% tinha feito o teste.
Os responsáveis do estudo consideram que importa «aprofundar conhecimentos sobre a infeção VIH nos currículos dos estudantes, em matérias de competências preventivas, como futuros educadores para a sociedade, tendo em conta a sua responsabilidade social e nas políticas de saúde».
Em Portugal, de acordo com o relatório "Infeção VIH e SIDA - situação em Portugal em 2019" (elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e pela Direção-Geral da Saúde), entre 2008 e 2017, o número de novos casos de infeção diminuiu 46%, bem como o de novos casos de doença (67%).
Todavia, adverte Aliete Cunha-Oliveira que, embora se assista a uma redução de novos casos, quando nos comparamos com a União Europeia somos um dos países com maior taxa de incidência de VIH e SIDA (9,5 por cada 100 mil habitantes, quando a média é de 5,8).
A professora da ESEnfC nota, ainda, que das quase mil novas infeções no ano de 2018 o grupo com maior número de novos casos correspondeu à faixa etária dos 25 aos 29 anos.
«Podemos estar infetados durante anos sem o saber. Uma parte dos indivíduos diagnosticados foi infetada entre o final da adolescência e o início da vida adulta», acautelou a investigadora, dirigindo-se a uma plateia formada quase exclusivamente por estudantes da ESEnfC que assistiam à mesa-redonda Communities make the difference, tema do Dia Mundial de Luta Contra a Sida deste ano (que se comemora a 1 de dezembro).
A mesa temática decorreu no âmbito de uma semana de atividades de sensibilização intitulada “Sabe sobre VIH/Sabe sobre ti”, dirigida aos estudantes da ESEnfC e de escolas secundárias de Coimbra (neste caso com a colaboração das unidades de cuidados na comunidade do ACES Baixo Mondego).
[2019-12-03]