O cloreto de etilo em spray poderá ser o método analgésico ideal para prevenir a dor associada à punção venosa em crianças, revela um estudo liderado pelo investigador da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Luís Manuel da Cunha Batalha, e pela enfermeira especialista em saúde infantil e pediatria do serviço de Ambulatório do Hospital Pediátrico de Coimbra, Maria Matilde Marques Correia.
De entre um conjunto de cinco anestésicos analisados no estudo, o cloreto de etilo em spray, que é muito pouco utilizado em Portugal neste cenário clínico, revelou ser «o único que não requer tempo de espera entre a aplicação e a punção», que «não exige penso oclusivo» e que tem a vantagem de ser «consideravelmente mais barato», sustentam os responsáveis pela investigação.
O estudo “Intervenção farmacológica na prevenção da dor da punção venosa na criança” – que comparou o cloreto de etilo em spray, a lidocaína a 10% em spray, o cloridrato de lidocaína a 2% em gel, o EMLA em creme (composto de lidocaína a 2,5% e prilocaína a 2,5%) e a lidocaína a 4% em creme – mostra que «nenhum dos anestésicos tópicos apresentou superioridade na prevenção da dor» e que «todos se revelaram eficazes, com uma intensidade de dor em mediana abaixo de dois pontos, o que é considerado um bom indicador de qualidade de cuidados na prevenção da dor».
Também «a facilidade da punção, visibilidade e/ou palpação da veia, número de tentativas para sucesso na punção e a cooperação da criança no procedimento foram semelhantes entre os grupos», demonstram as conclusões deste trabalho.
Porém, a utilização do cloreto de etilo em spray representa 40% dos gastos com o método mais dispendioso e que é o mais utilizado: o EMLA.
Afirmam o professor Luís Batalha e a enfermeira Maria Correia que «o uso do cloreto de etilo num departamento de ambulatório pediátrico revela vantagens na relação custo-benefício», seja «de forma direta (custos financeiros)», seja «indiretamente, no menor tempo de ausência dos pais no local de trabalho e das crianças na escola», mas também ao nível dos «custos com os materiais necessários para a aplicação do penso oclusivo e com o trabalho do enfermeiro». E, ainda, no que toca aos «potenciais benefícios na redução da ansiedade da criança, pela ausência de tempo de espera entre a aplicação do anestésico tópico e a punção».
«Sem prejuízo para o estudo de outras formas de analgesia farmacológica e não farmacológica para prevenção da dor provocada pela punção venosa nas crianças, o uso do cloreto de etilo deve ser repensado e mesmo recomendado, principalmente num departamento ambulatório pediátrico», concluem os investigadores.
Este estudo randomizado controlado foi desenvolvido ao longo de três anos (entre 2014 e 2016) e envolveu 350 crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 17 anos, com necessidade de punção venosa, acompanhadas pelos pais.
[2017-07-10]