O professor Manuel Gonçalves Henriques Gameiro prestou provas de doutoramento em Enfermagem, tendo sido aprovado com distinção e louvor, ao defender, no dia 19 de outubro, na Universidade de Lisboa, a tese “Processos e Experiências de Transição Adaptativa dos Adolescentes com Doença Onco-Hematológica Durante o Tratamento”.
De acordo com o investigador da ESEnfC, da Unidade Científico-Pedagógica de Enfermagem de Saúde da Criança e do Adolescente, os achados obtidos (entre 2013 e 2014) no âmbito do trabalho de doutoramento, tendo por base 27 testemunhos sobre as experiências de 23 adolescentes com leucemia ou linfoma, permitiram «compor um modelo teórico compreensivo das experiências e processos adaptativos dos adolescentes com doença onco-hematológica durante o tratamento».
Esta «teoria fundamentada nos dados» vai facilitar «uma maior compreensão empática dos adolescentes em situação e uma intervenção cuidativa mais esclarecida (e efetiva) por parte dos enfermeiros, dos restantes profissionais envolvidos e, igualmente, dos pais», explica o professor Manuel Gameiro.
Uma vez que «cada adolescente experiencia a doença de modo diverso e desenvolve esforços de adaptação próprios», o modelo teórico agora construído «pode ajudar a fazer previsões, não propriamente sobre a probabilidade estatística das ocorrências e situações, mas sim sobre o seu sentido e possibilidade humana, que necessita sempre de ter em conta cada ser humano como indivíduo em situação, isto é, que não dispensa a sua escuta e a interpretação da sua narrativa», prossegue o investigador da ESEnfC.
Segundo este modelo, e no confronto com experiências de mal-estar, de stresse intenso e de sofrimento na doença, há «três movimentos adaptativos fundamentais, complementares e interativos» a que os adolescentes recorrem e que Manuel Gameiro designa por “Esforços de autorregulação e ajustamento à situação de doença”, “ Esforços para promover e manter um estado disposicional positivo” e “Esforços para lidar com situações referenciais de sofrimento”.
Entre as estratégias gerais para enfrentar e superar a situação de doença e tratamento, os adolescentes analisados no estudo procuram, por exemplo, desconcentrar-se da doença, manter o contacto com amigos (socializando), preservar um “autoconceito positivo” e conceber “novos motivos para lutar”.
Já quanto a estratégias específicas para promover um “estado disposicional positivo”, os adolescentes procuram divertir-se, manter projetos, atividades e papéis relevantes, atribuir significados positivos a coisas e acontecimentos comuns, pensar de forma positiva, controlar as emoções negativas e prezar o bem-estar relacional e afetivo.
A amostra do estudo foi composta por 23 adolescentes, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos, 17 dos quais referenciados no Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Pediátrico de Coimbra. A maioria encontrava-se ainda em fase de tratamento, alguns na fase final (dita de manutenção) ou nos primeiros meses após o termo do tratamento. Alguns testemunhos foram obtidos através de entrevistas. Outros adolescentes, tratados em diversos hospitais do país, postaram os respetivos testemunhos em sítios na Internet relacionados com a oncologia. No caso de um adolescente, por indisposição pós-quimioterapia, a entrevista foi realizada só com o pai.