Três dezenas de formandos provenientes de diferentes zonas do país, do Minho ao Algarve, estão a frequentar o I Curso de Pós-Graduação em Enfermagem na Esclerose Múltipla “Excellence in MS”, lançado pela ESEnfC, com o apoio da Novartis.
Esta primeira pós-graduação para enfermeiros a abordar aspetos teóricos, práticos, sociais, profissionais e legais da esclerose múltipla visa aumentar a especialização e formação dos enfermeiros para a gestão dos cuidados, na promoção de autonomia e no tratamento destes doentes.
As aulas do I Curso de Pós-Graduação em Enfermagem na Esclerose Múltipla "Excellence in MS", que pretende também desenvolver a prática de investigação em Enfermagem nesta doença, decorrem, até setembro de 2013, na ESEnfC e no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
O curso tem a coordenação científica de Luís Cunha, Fernando Henriques, João Rogério Vieira e Lívia Sousa e a coordenação pedagógica de Carlos Oliveira e Licínio Madeira.
A esclerose múltipla afeta cerca de cinco mil portugueses. É uma doença inflamatória crónica do sistema nervoso central que se manifesta em jovens adultos, entre os 20 e os 40 anos de idade, e que interfere com a capacidade do doente em controlar funções como a visão, a locomoção e o equilíbrio.
Professor Carlos Oliveira: "Tem havido um constante aperfeiçoamento na formação dos enfermeiros para que haja uma melhoria efetiva no processo de cuidar." |
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Sobre este curso, que começou no dia 14 de abril, na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, ouvimos o professor Carlos Oliveira (CO) e o enfermeiro Licínio Madeira (LM), responsáveis pedagógicos da pós-graduação.
Qual o impacto que o curso está a ter junto dos enfermeiros que o frequentam?
CO - Os enfermeiros têm revelado, de forma bastante percetível, todo o interesse em aprofundarem conhecimentos no âmbito desta temática. Têm, de igual modo, assumido um papel ativo/interventivo na partilha de experiências que acumularam ao longo da vida profissional. À coordenação do curso têm feito sentir que a pós-graduação está bem organizada, realçando também a pertinência dos conteúdos abordados e a sua contribuição para a melhoria das práticas, evidenciando a qualidade dos professores e formadores na abordagem das diferentes temáticas.
Haverá um défice de formação dos enfermeiros para o tratamento de pessoas com esclerose múltipla?
LM - Défice haverá sempre, certamente. O enfermeiro é, por natureza, uma pessoa insatisfeita com o conhecimento de que dispõe, para dar resposta às solicitações permanentes dos doentes que a ele acorrem. A informação é, nos dias de hoje, uma ferramenta importante. As redes sociais de que os doentes se valem para esclarecimento com outros doentes de todo o mundo faz com que o enfermeiro tenha de se fundamentar nas suas decisões e nas suas respostas. Os doentes têm de continuar a ter confiança no seu enfermeiro de referência nesta área. O enfermeiro tem de conquistar o doente pela sua afirmação no contexto da equipa de saúde.
Que papel devem ter os profissionais de saúde em relação à família destes doentes?
LM - O doente não é, não pode ser visto de uma forma isolada. O doente é uma parte do problema, por vezes a parte menor, porque os défices ainda não são significativos, mas na família (a mãe, o pai, o marido, o filho, o namorado) vai-se instalando a ansiedade do futuro, do escuro, da tempestade que aí vem. A única maneira certa de intervir é identificar o familiar que tem maior papel junto do doente e disponibilizar-se para lhe dar o esclarecimento e apoio que essa pessoa precisar, incluindo um contacto pessoal. Numa segunda fase, propomos-lhe a ligação a grupos de doentes com a mesma doença e continuar a acompanhá-la. Os familiares são o suporte mais importante do doente em todo o seu percurso futuro. Ou seja, o familiar, ou cuidador como por vezes se chama, faz parte obrigatória do planeamento da intervenção do enfermeiro para esse doente em particular.
Enfermeiro Licínio Madeira: "O enfermeiro tem de conquistar o doente pela sua afirmação no contexto da equipa de saúde". |
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Estará para breve alguma novidade no cuidar e no tratamento das pessoas com esta doença?
CO - Tem havido um constante aperfeiçoamento na formação dos enfermeiros para que haja uma melhoria efetiva no processo de cuidar. Este curso pretende o desenvolvimento de padrões de cuidados de Enfermagem à pessoa com Esclerose Múltipla e sua família e a definição de guias orientadores de boas práticas de cuidados de Enfermagem. Pretende‐se, de igual modo, promover a prática da investigação em Enfermagem no âmbito desta temática. Quanto à investigação e ao desenvolvimento de medicamentos nesta área, há novas fórmulas terapêuticas de mais fácil utilização, designadamente uma terapêutica oral aprovada para utilização hospitalar em Portugal.
Poderemos falar em certificar a qualidade dos cuidados nesta área?
LM - Podemos e devemos falar em certificação a nível internacional. O nosso conhecimento e a nossa intervenção não envergonha ninguém, antes pelo contrário, e refiro-me a nível mundial. No entanto, a consignação do ato médico condiciona a autonomia que esta formação proporciona ou deveria proporcionar. A criação de guias orientadores é uma proposta de trabalho, principalmente na área da nossa intervenção, ou seja: na entrevista, no planeamento e intervenção em cuidados de Enfermagem. É um começo importante, é imperiosa essa homogeneidade na intervenção, para que o doente não estranhe ou suspeite do profissional ou do processo em si. É importante para o profissional, pois está sempre mais perto do outro, do colega e do doente.
Qual a importância do apoio da Novartis no lançamento deste curso?
CO - O apoio da Novartis foi fundamental para que o “Curso de Pós‐Graduação em Enfermagem na Esclerose Múltipla” fosse possível de planear e implementar neste momento. Ele resultou da parceria entre três instituições: Novartis; Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, mais especificamente o Serviço de Neurologia. Tem sido uma parceria profícua, que nós, Escola, temos todo o interesse em manter, com o objetivo de ir ao encontro da satisfação das necessidades dos cidadãos do nosso país, proporcionando aperfeiçoamento e melhoria de conhecimentos aos enfermeiros/profissionais de saúde, contributo essencial para a excelência dos cuidados aos doentes e família, melhorando assim a sua qualidade de vida.